quinta-feira, 13 de maio de 2021

Pequenos passos

 Como tem sido nos últimos meses, mais uma vez eu já acordei cansada. Mas, era mais um cansaço emocional, porque fisicamente eu estava bem. O que é estimulante, pois nos últimos nove meses eu tenho sofrido demais com dores nos quadris. Tenho psoríase há 30 anos, já tomei todos os remédios disponíveis para o tratamento, mas de uns 10 anos pra cá descobri que as dores nos pés e nos quadris não eram “a ciática”, e sim artrite psoriática.

Com a pandemia eu precisei migrar para as aulas online. Foi difícil no início, mas todas as teachers foram aprendendo, se adaptando e começando a gostar da nova configuração de aula. Mas depois de 4 meses dando aula na cadeira de madeira da sala, a dor começou... mais uma vez fui tratar a ciática, mas a ressonância magnética me mostrou que todas as minhas articulações da sacro-ilíaca estavam inflamadas, e não era de se espantar que não era pouca coisa, pois eu estava beirando a sandice, tamanha a dor, e precisava continuar minhas aulas, pois, como pagar as contas, right?

Pedi colo de mãe e vim morar com ela em outubro, eu precisava de ajuda e companhia para meus afazeres e me defender da pandemia. Rimei. Cheguei em outubro e não dizer quantas vezes fui a consultas médicas, quantos exames eu fiz – raio x, ressonância, ressonância com contraste, tomografia, infinitos exames de sangue – tive que renovar todo o meu cartão de vacina... tomei novamente todas as agulhadas da primeira infância, que o envelhecimento me agraciou com o esquecimento. Tomei umas 15 injeções em um espaço de 2 meses: furos 3 furos num braço, 2 em uma coxa, mais 2 na outra... e mês seguinte era mesma coisa. Mas é isso, vida de imunossuprimida tem dessas coisas.


Meu quadril direito. tudo que é branco está inflamado, dor demais.

Diante disso recorri às fisioterapias. Uma amiga antiga me recomendou uma fisioterapeuta que é acupunturista e trata a dor, e tudo mais no corpo! Uma maravilhosa, e ainda é uma profissional preta! Com duas semanas eu já sentia diferença. Depois encontrei uns estudantes de fisioterapia, numa faculdade vizinha da mamãe – grátis <3 – e temos sido muito bem atendidas, e depois de umas 4 sessões, as coisas já estão melhores.

Há 3 noites, li uma publicação de um perfil que sigo chamado @mandi.design informando que aquela noite seria a mis escura por anteceder a lua nova, não há luz suficiente para o satélite. E essa total ausência de luz  é o Marco da Transformação, e devemos, à noite, mentalizar qualquer coisa que queiramos que saia de nosso corpo e mente, de modo que você iniciaria o seu processo de cocriação, e que devemos refletir sobre a vida. Assim o fiz, pois imaginei muitas outras desesperançosas pudessem estar movimentando essa energia para o prana e assim o fiz.

Pedi que saísse toda dor, inflamação e doença que me acomete, que me tirasse o cansaço, a fadiga, o medo e a insegurança e a fraqueza de iniciar os novos processos que quero para uma nova fase da minha vida. Fiz, mentalizei, olhei para os céus e agradeci. Dormi.

No dia seguinte acordei mal, cheia de dor, minhas mandíbulas casadas com o bruxismo me mantiveram ocupadas, tudo doía, do pescoço aos ombros; também torço as mãos durante o sono, qual o nome disso? Tudo doía também! Mas apesar disso, tive um dia normal, mas consegui me organizar para dar minhas aulas, me organizar para ir à farmácia (isso pode ser um processo), e fui. Dia normal, sem dor, das no quadril.

Ontem fui para a minha fisio. As duas profissionais que me atendem são graduandas adoráveis e competentes! E fazem algo mágico: nos estimulam para os exercícios como se fosse um personal trainer numa corrida! Elas me perguntaram se eu já havia começado a caminhar, e apenas lhe dei aquele olhar de cumplicidade em que tudo se entende, ela sabia.

À noite, na página @quantica_e_espiritualidade, li que a frequência do planeta aumentaria e seria o momento de “materializar algo de forma palpável” e “transformar algo em físico”, e novamente palpei a minha cura! Pois, hoje, esta dor é o maior dos meus impedimentos: para dirigir, passear, limpar a casa e trabalhar mais, num ritmo normal, para recuperar aquele sentimento de “retorno à normalidade”.

Pois bem. Hoje, quando acordei, eu de fato me sentia bem. Zero dores, disposta, café da manhã reforçado. Voltei com meu desjejum para comê-lo na cama assistindo as notícias, como faço diariamente. Quando acabei senti algo estranho: percebi que não havia nenhum motivo para continuar ali deitada, era hora de descer e dar uma volta no condomínio. E-eu-fui!


Trilha sonora: "Don't you forget about me", do Simple Minds (minha música favorita)


Peguei meu celular com minha setlist de músicas da minha adolescência, Simple Minds, Information Society, Depeche Mode e, também, Cardi B, Beyoncé e Rupaul. Andei devagar como quem caminha sem pressa para nada. Estava uma manhã nublada e ventava, do jeito que amo! O que me ajuda a dar as 4 voltas no condomínio com mais facilidade, ao todo foram 30 minutos, e quando vi que era hora de parar fiz outra coisa: lagarteei! Como se diz no sul do brasil, quando se senta ao sol num dia fresco.

Lagarteando!

Subi para o apartamento e mamãe estava na varanda com o celular na mão. Ela me esperava para filmar “o dia que eu consegui descer para caminhar ao sol”, depois de 9 meses que estou aqui na casa dela me recuperando. Ela me abraçou quando me viu e ficou feliz pela pequena conquista, e agradeceu a Nossa Senhora de Fátima, a santa celebrada neste dia. Ficamos ambas felizes!

Afinal, depois de 9 meses, foi um parto, e como dizia o post, eu cocriei algo dentro dos pedidos que fiz: movimentei minha energia para cuidar de mim! Espetacular!

Well, parece que estou sendo protegida de vários lados, mas o abraço da mamãe foi o melhor!  Mas bom, bom mesmo, está sendo conseguir escrever mais um texto para este blog! Cocriar algo que faz sentido para mim!

Namastê!

terça-feira, 27 de abril de 2021

pequeno texto de apreciação


quando ainda estava na graduação, início dos anos 2000, jamais poderia imaginar que me apaixonaria por literatura, muito mais por poesia.

minha primeira aula foi “teoria da literatura – lírica”, e nos primeiros 10 minutos de aula tive certeza de que fracassaria naquele recém iniciado empreendimento (afinal, fiz faculdade particular). me entreguei à disciplina – não tinha muita opção, entrei “velha” na faculdade, “já tinha” 23 anos – e consegui entender o que a professora dizia. me apaixonei pelo texto lírico. porém, apenas no último ano da graduação eu descobri por que eu me encantara pela poesia, eu seria apresentada ao poeta americano e.e. cummings.

modernista, rompeu com a tradição escrita lírica e estrutural, foi inovador com seu estilo, burlava regras de gramática e as palavras se tornavam suas, uma vez que brincava com suas estruturas e significados na criação de seus poemas concretos e vanguardistas.

seus poemas são comumente considerados de difícil compreensão, mas minha paixão era tamanha que me sentia desafiada por eles – o poeta e seus poemas; eu queria ler, ler e reler até me fundir com seus significados e fazer com que eu me formasse deles. dentre os poemas que estudamos em sala, o que me fisgou definitivamente foi “since feeling is first”.

resumidamente, o poema diz que sentimento deve ser prioridade na vida, e que semântica que mais importante que sintaxe, pois quem muita atenção a ela dá, à sintaxe, pouco da vida aproveita.

sentimento e semântica são o que não se vê, mas que se entende.

honestamente, toda aula, seja qual for o seu conteúdo, deveria usar essa lógica como regra máxima. ainda que levianamente, aplico isso na minha prática diária ao conduzir alunas e alunos a seus objetivos, tento fazer com que leiam além do texto escrito.

“since feeling is first” foi fundamental para minha formação enquanto professora, muito mais do que consigo explicar. precisei escrever este humilde texto de apreciação para compreender que esse poema sempre foi o meu mote, seu significado estava escondido em mim e só agora entendo por que cummings me instigava tanto. lírico, não? seu desdém pela norma culta se assimila ao que há de mais visceral em mim.

são essas as coisas das quais mais fugimos na vida e que ao mesmo tempo estão bem claras bem nas nossas caras. Um dia explico isso melhor, por agora preciso ruminar o que acabei de conceber sobre mim mesma.

e isso, minha gente, é isso que a poesia faz: nos transforma. e o texto que era de apreciação a outrem, virou apreciação de mim mesma.


Links pesquisados:



sexta-feira, 23 de abril de 2021

Rascunho de um conselho


A pior coisa que pode acontecer a uma pessoa que sofre de ansiedade é esperar que ela se desculpe por sua doença.

Se você não tem paciência para conviver com uma ansiosa, apenas não o faça. Abra a o jogo, diga a verdade, cause a dor da sinceridade, mas não permita que uma ansiosa sinta culpa por sua condição porque você é incapaz de se ajustar à realidade dela.

O que mais ouço: “É muito difícil entender o seu problema”. A pergunta que nunca devolvo é: “Será tão difícil quanto sofrer dele?”. A resposta não interessa a ninguém, portanto eu nunca a saberei.

Há muitas coisas que me cansam dentro desse dilema, mas nada me cansa tanto quanto me sentir culpada por uma condição que não escolhi, porque não adianta explicar, ou sequer pedir que entendam, a decisão de as pessoas entenderem não é sua.

Me recuso sentir essa culpa, de verdade, seja lá quem for que está com raiva de mim depois que perdi meu controle; enquanto outros sofrem com seu ego ofendido, eu sofro das dores e da tormenta. Ansiedade não é apenas sobre sentir medo, há a dor além da alma: no ápice da crise seu corpo é bombardeado com um combo de sentimentos: medo, vergonha, angústia, remorso, raiva, autopiedade... e até encontrar algo que te distraia do ataque podem-se passar 5 minutos, ou 5 horas. Enquanto isso, há dor no peito, na nuca e na fronte, no abdome, ânsia de vômito, taquicardia, respiração ofegante, sudorese, boca seca.

O fim da crise nem sempre traz alívio, muitas vezes deixa uma ressaca. A adrenalina não te controla mais, então os músculos cedem e doem, muito. A dor de cabeça passa, mas tudo é uma confusão só, não consigo me concentrar em nada. Meus olhos ficam pesados, como se meus globos oculares ficassem inchados. A letargia é generalizada. Ou seja, ressaca.

Para além do rebote físico, há também a ressaca moral. Mais uma vez eu perdi o controle, me excedi, gritei, explodi... e aqui entra a culpa.

Culpa por existir? Sim, pois eu existo apesar da dor, ela é parte de mim. Minha convivência comigo mesma melhorou muito depois que aprendi a abraçar essa dor, pois no momento que a acolho, também acolho a mim. Mas então, pergunto novamente, culpa de quê? Por que não sou capaz de viver os meus problemas apenas para mim? As vezes eles excedem os espaços do meu corpo e da minha alma, preciso dividi-los com alguém. Não precisa tomar para si, pode lidar com ele como se faz com uma revista de consultório médico: segure, olhe, leia e quando terminar é só deixar onde encontrou, alguém vai recolher. Ainda que seja uma revista velha, ela te ensinou alguma coisa naquele momento, com a minha dor é a mesma coisa. Veja, leia, folheie e devolva, eu seguirei com ela, mas por uns instantes eu a dividi com você. Era só isso que eu queria. Era só e somente isso que eu precisava. A vida segue.

Eu não tenho culpa e jamais vou permitir esse sentimento, nunca mais. Não há do que me desculpar. Há, apenas, a necessidade de prosseguir e a única coisa que carrego é a dor, pois a ocorrência dela independe da minha vontade. O seu incômodo, não, ele é só seu, a mim cabe apenas ignorá-lo.

Se eu pudesse dar a outra ansiosa um conselho sobre ter ansiedade: não tenha. Mas enquanto essa decisão não é sua, tenha, acima de tudo, coragem para ignorar tudo aquilo que não é seu, e prossiga. Sim, prossiga!

Esse é o conselho.


sábado, 20 de janeiro de 2018

Mestra!

Este blogue está abandonado há dois anos. Quando o criei eu fiquei tão feliz pois além de amar escrever, sinto uma necessidade enorme de compartilhar o que penso como forma de terapia.
É claro que tinha noção do abandono, mas assim, eu parei para fazer um mestrado e infelizmente não consegui manter muitas outras atividades a tempo.

Minhas prioridades de hoje são um pouco (demais) distintas das daquela época, e definitivamente as coisas que preciso externar através da escrita também, principalmente após o complicado processo de escrever uma dissertação. Olha, já passei por péssimos bocados na minha vida no que diz respeito a questões emocionais, mas nada se compara ao tumulto que um mestrado causa em nossas vidas.

Se você é uma dessas aberrações que termina o mestrado no prazo e nem usa uma bolsa de estudos, pois consegue conciliar suas atividades do dia-a-dia com o stricto sensu, e no dia seguinte a sua defesa já está com o projeto de doutorado aprovado, me desculpe, você deve ser um alien! QUEM FAZ ISSO NOS DIAS DE HOJE??? Pois bem, há desses seres iluminados dentre nós pobres humanos desequilibrados com requintes de procrastinação.

Defendi minha dissertação há exatos dois meses e ainda não sei como consegui. é claro, minha orientadora foi praticamente uma das variantes de Nossa Senhora nos últimos momentos, a academia entendeu minhas dificuldades, e tive amigos maravilhosos ao meu lado que não me deixaram jogar tudo para o alto e assim fazer um financiamento e devolver toda a bolsa de estudos para a instituição que a financiou. Mas agora, que estou prestes a tocar naqueles escritos para enfim terminar minha pesquisa, fico refletindo o que poderia ter feito diferente (FAZER TUDO DENTRO DO PRAZO, MINHA FILHA!) e me questiono se, mesmo que eu tivesse feito tudo direitinho e defendido no prazo normal, será que não estaria livre das neuras pós-defesa? Me conhecendo como sou, tenho certeza que teria surtado da mesma forma, mas, por mais que eu queira ser a Pollyanna, eu não teria a consciência que tenho neste momento.

Como um amigo me disse logo em seguida, "tenha orgulho do seu título", e tenho, pois me custou muito, inclusive a minha saúde mental, e agora ele é meu e ele vai me definir sim! Ainda que eu me sinta mal por ter estourado todos os prazos. E a coisa mais gritante que minha Pollyana interior está me dizendo é: "Você não fez do jeito como gostaria e afetou muitas pessoas ao seu redor, mas você fez, Criolinha! Sempre que se sentir assim lembre-se do que sentiu na última virada do ano quando realizou para si mesma: 'EU FINALMENTE SOU MESTRA!', e carregue sempre essa frase consigo!"

Deixo a dica da minha experiência: não deixe de fazer, faça! Só desista se for para se proteger de algo que não tenha controle, mas se tudo estiver dentro do seu alcance, vá e faça! Se agarra naquele amigo que está do seu lado alisando suas costas enquanto você digita as últimas frases, e vá! Tá tudo muito esculhambado no mundo para sermos os nossos próprios esculhambadores! Vá e faça!!!

Beijos,

Criola!


20/11/2017 - Dia da minha defesa na UFSC (toda cagada)

sábado, 7 de março de 2015

Meu lugar ao sol!

Praia da Galheta, Florianópolis, novembro de 2013
A primeira vez numa praia de nudismo não se esquece! No dia dessa foto eu estava na Praia Mole, uma das praias do leste de Florianópolis com amigos e amigas e resolvemos ir à Galheta, que é do lado, só é preciso pegar uma pequena trilha - só se chega lá assim. A Praia da Galheta é uma praia de nudismo, mas não dessas que você é obrigada a se desnudar e que tem fiscais vigiando tudo e todos, lá você fica nua se quiser.

Éramos quatro mulheres e três homens, e depois de uma tarde maravilhosa nos divertindo muito pegamos a trilha que tem uma das paisagens mais bonitas que já vi aqui. No momento que pisamos as areias da Galheta eu e mais duas imediatamente nos livramos de nossos sutiãs e vivemos a deliciosa sensação do topless! Era o fim da tarde, o sol estava brando, estávamos sentados na areia, continuando nosso papo tranquilamente e de repente todos nós visualizamos um homem que fazia nu total: olhamos, claro, mas ao mesmo tempo retornamos para nossa conversa, e o peladão continuou na sua curtição.

Resolvi mergulhar para desfrutar um pouco mais da minha liberdade semi-nua e sem que eu visse uma de minhas amigas fez essa foto maravilhosa. Se banhar no mar sem sutiã é delicioso, me sinto mais em contato com o todo, com a natureza, com uma a coisa a menos me restringindo, me amarrando e me impedindo de me sentir mais livre! Não foi a primeira vez fiz topless, mas infelizmente não posso fazê-lo com mais freqüência sem que eu corra o risco de ser presa, felizmente eu estava com pessoas de pensamento pós-moderno e que respeitam o direito de liberdade de todos os indivíduos.

Voltei para meu grupo e continuávamos nosso papo descontraído, me secava ao sol enquanto papeávamos, até que um dos meninos nos alertou que havia dois homens parados olhando para nós com os peitos de fora. A princípio tentamos ignorar, mas o mesmo amigo disse que eles continuavam olhando e que havia malícia em seus olhares, todos nós olhamos para eles mais uma vez e uma das minhas companheiras de topless, que tem o pavio curto, virou para eles e perguntou "ALGUM PROBLEMA?!", os dois fizeram cara de paisagem como se não fosse com eles e, se bem me lembro, disfarçaram, mas continuaram lá. Até que o namorado desse amigo que nos alertou, querendo nos proteger, sugeriu que nos vestíssemos, pois não sabíamos quem eram, e eu achei melhor que fôssemos embora.

Teria sido uma tarde perfeita não fosse a maldade daqueles dois idiotas, como se, a julgar pela idade que aparentavam ter, nunca tivessem visto peitos em suas vidas... e se eu comentar essa história o comentário mais provável que vou escutar - de homens e, o que mais me dói, de mulheres - é: "Se vocês não tivessem tirado os biquínis não teriam passado por essa situação"...

Hoje é o Dia Internacional da Mulher e em pleno século XXI ainda não conquistamos nosso lugar ao sol. Relembrar dessa tarde de topless me faz refletir que por mais que tenhamos avançado depois de tantos anos de luta pela nossa liberação ainda temos que lidar com esse tipo de comportamento pueril de homens e da sociedade adultos. Ainda preciso me impor para explicar questões feministas e usufruir o meu direito de ser feminista sem que isso me transforme no diabo.

Se é que hoje é um dia de se ganhar presentes (pela estúpida condição da natureza do meu sexo) o que mais quero além do fim da ignorância acerca do assunto e a conquista da igualdade de direitos é que minhas companheiras de gênero acordem para a realidade que nos cerca, que paremos de aceitar o machismo como a condição real do universo: nós mulheres precisamos ver o mundo com uma visão feminina, e por que não, feminista das coisas?! Temos que aprender a fazer o que Virginia Woolf diz em Um quarto todo seu (1929), onde ela defende o direito ao espaço da mulher no universo criativo e sugere que nós mulheres sejamos amigas das outras mulheres e nos defendamos contra todo o moralismo que quer nos dizer como devemos agir, para deixarmos um legado de empoderamento para nossas filhas, ou seja, as mulheres do futuro, para que dessa forma tenhamos esse espaço todo nosso para pensarmos e agirmos como quisermos, sem que nossas atitudes sejam pré-moldadas pelo pensamento patriarcal, para aí sim, sairmos ao sol, de topless ou não!

Nossas atitudes e nossos corpos são somente nossos e temos que ser conscientes da importância da luta e da aquisição dos nossos direitos à igualdade. Aí sim, terei prazer em ouvir: feliz dia da mulher!

Não tive receio nenhum de anexar minha foto a esta publicação, e sei que dentre os que vão acessar este texto, alguns vão fazê-lo talvez para ver se há fotos mais reveladoras, talvez alguns para saber o que eu fui caçar numa praia de nudismo, e sei que vai haver quem diga que sou doida ou que estou “acima do peso” para me expor assim. Mas sinceramente, eu amo essa foto! Além de ser a recordação de um dia muito legal me sinto mais parte da natureza ao ver a minha cor se misturando com a cor da areia, e sinceramente: estou muito linda, viva e em paz com meu corpo! Mas principalmente com a minha consciência que tenho o direito de colocá-la aqui!

Beijos, amigas!


Flávia Criola

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O tamanho do peru



Gente, ainda bem que eu conheço pessoas que sabem que sou capaz de certas coisas, e hoje fiz uma delas e tive a mais divertida das surpresas.

Desde que vim morar aqui em Florianópolis, há dois anos e meio, eu adotei um estilo de vida mais saudável e vivo nas feiras da cidade em busca de alimentos orgânicos e coloniais, especialmente queijo. É chamado queijo colonial o de produção artesanal originário do Rio Grande do Sul, mas se fabrica aqui em Santa Catarina também, felizmente, É UMA DELÍCIA! Há uma feira de orgânicos todas as quartas-feiras no campus da UFSC, e, com exceção das segundas e quintas, no Largo da Alfândega no centro da cidade há uma feira de produtores das redondezas que trazem os benditos queijos e manteiga colonial, cachaça, açúcar mascavo, ovo caipira, feijão, fubá, goma de tapioca, muitas folhagens orgânicas, as verduras em sua maioria são do Ceasa, mas algumas barracas trazem um ou outro vegetal orgânico, e muitas outras coisas que comumente se encontra nessas feiras. Bato meu ponto semanalmente e já sou conhecida de alguns feirantes.

Feira no Largo da Alfândega, centro de Floripa

Eu adoro feiras! É um ambiente saudável, mas principalmente de muita comida, e há coisas que só acontecem lá! Só há coisas gostosas, e muito me agrada ver que há negócios de famílias inteiras em que todos trabalham, pois se cria um clima mais íntimo. Há um casal de velhinhos que eu adoro e já os chamo de “tio” e “tia” e sempre que me vêem já esboçam um doce sorriso. Como eu sou de fora da cidade curto muito observar o sotaque local e identificar as diferentes variações de pessoas de outras localidades, mas o sotaque “Manezinho” típico de Floripa é o que reina com seus bordões e vocábulos, mas o que mais gosto é o de tratar a todos por “Quirid@”, geralmente no fim da frase e, muitas vezes, para se tirar certa vantagem do outro, principalmente numa conversa divertida.

Hoje eu estava pagando minha sacola de folhas quando o feirante da barraca do lado começou a gritar: “OLHA O PERU! QUEM VAI LEVAR O PERU?!? ELE ESTÁ NO PONTO!”. Eu, claro, ri e a mocinha que me atendia que é muito branquinha chegou ficar enrubescida ao me acompanhar no riso. Novamente, eu, claro, que não posso decepcionar o meu público, me engajei na seguinte discussão:

Eu: Mas esse peru é grande?
Feirante: Claro, filha, aqui só tem coisa de qualidade!
Transeunte: Sei não... esse peru não está com cara de ser grande...
Feirante: Tamanho não é documento, “Quirida”!

Todos riram do dono do peru!!! Eu tive que me escorar na barraquinha da moça, que a esta altura já estava com as bochechas quase púrpuras. E o melhor era a cara do sujeito, daquelas figuras bem divertidas e sem-vergonha!

É sério, esse tipo de coisas estão sempre a acontecer comigo e é pena que eu não consiga transferir para cá toda a diversão e espontaneidade do momento. Mas espero que você ache graça e, como a transeunte intrometida, que aprenda a lição!

Bom peru para quem vai comer na semana que vem!


Flávia Criola

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A beleza do cinza


Hoje é o dia da Consciência Negra. 

Eu, uma Criola filha de uma negra e um alemão, nunca entendi o pensamento que leva ao preconceito uma vez que nasci em de uma união inter-racial, pois sempre parti do princípio que se meus pais aceitaram um ao outro eu jamais poderia aceitar qualquer tipo de comportamento preconceituoso no que diz respeito a diferentes raças.

Em tempos pós-modernos nosso pensamento nunca foi tão retrógrado. Uma coisa que me aborrece muito é ver que é preciso haver um esforço coletivo de esclarecer que AINDA existe racismo... AINDA há pessoas que negam ser racistas, mas seus atos as condenam... AINDA há pessoas que falam em prol do combate ao racismo com um tom de condescendência em suas vozes, para mim das mais irritantes das coisas relacionadas ao assunto... AINDA há quem diga que o racismo é maior por parte dos próprios negros, e quem diz isso não é negro, obviamente. AINDA há quem julgue uma pessoa como bandido só por ser negro.  AINDA é escassa a presença de negros em comerciais, editais de moda, novelas, em posições de liderança, como protagonistas em estórias, nas escolas e nas universidades. Enfim, esta lista poderia ser enorme...

Há uma música que gosto muito, The beauty of gray, "A beleza do cinza", da banda Live (do disco Mental Jewelry - 1991), que questiona a reação indiferente que temos para com quem julgamos diferente de nós e o fato de nunca questionarmos a origem dessa reação. 

As coisas que permitimos que nos separe dos outros que julgamos diferentes de nós são mentiras que nunca questionamos de onde vieram, ou vêm. Precisamos misturar nossas cores e apreciar a beleza da cor que resultar dessa mistura! É preciso sair da escuridão da ignorância e encher nossos olhos com a luz do sol e do discernimento!

Muita paz, muito Axé, e principalmente, MUITO AMOR!

Flávia Criola


Como eu sou uma tradutora acadêmica em formação (ham-ham!) a tradução é minha; a letra original pode ser vista aqui, e a música ser ouvida aqui.


"A Beleza do Cinza"

Se eu dissesse que ele é seu irmão
nós poderíamos relembrar o passado
então você poderia seguir com seu dia
se eu dissesse que você poderia dar-lhe um pouco de sua água
você balançaria seu cantil e daria suas costas
A percepção que te separa dele
é uma mentira
por alguma razão você nunca se perguntou porquê
este não é um mundo preto e branco
você não pode se permitir a acreditar apenas na sua opinião

REFRÃO
Este não é um mundo preto e branco
para estar vivo
digo que as cores devem se misturar
e acredito que talvez hoje
nós todos vamos apreciar
A beleza do cinza

Se eu dissesse que ela é sua mãe
nós poderíamos analisar a situação e irmos embora
se eu dissesse que você deve lhe dar um pouco de sua água
seus olhos se iluminariam como a madrugada
a percepção que te separa dela
é uma mentira
por alguma razão você nunca se perguntou porquê
este não é um mundo preto e branco
você não pode se permitir a acreditar apenas na sua opinião

REPETE O REFRÃO

Olhe dentro de seus olhos
não há a luz do dia
é um dia novo





Pequenos passos

 Como tem sido nos últimos meses, mais uma vez eu já acordei cansada. Mas, era mais um cansaço emocional, porque fisicamente eu estava bem. ...